
Why "Bad" Things Are Cool Now
A percepção do que é "bom" ou "ruim" está a mudar drasticamente, impulsionada pela evolução tecnológica. Tradicionalmente, a sociedade valorizava a perfeição em todos os aspetos, desde a educação formal até à produção de conteúdo. No entanto, com a facilidade que a tecnologia oferece para alcançar essa perfeição — seja na edição de vídeo, na escrita ou na realização de cálculos complexos — o valor da impecabilidade diminuiu. O que antes exigia um esforço monumental e era um sinal de excelência, agora é trivialmente alcançável por qualquer pessoa com acesso a ferramentas digitais. Esta mudança levou a uma reavaliação do que é valorizado, e a imperfeição, a autenticidade e a "humanidade" começaram a emergir como qualidades distintivas. O vídeo destaca como a estética "perfeita" e polida, antes vista como o auge da profissionalismo, está a ser substituída por uma apreciação do que é bruto, orgânico e até intencionalmente "mau". Desde as campanhas publicitárias da Nike que optaram por uma abordagem amadora, até à estética "feia" de certas marcas e aplicações sociais, a imperfeição tornou-se um marcador de autenticidade num mundo saturado de conteúdo gerado por inteligência artificial. Esta tendência não se limita apenas à estética visual, mas estende-se à comunicação, onde a linguagem corporativa formal está a dar lugar a interações mais diretas e humanas. A imperfeição, outrora um defeito, é agora uma forma de se destacar.
O Paradoxo da Perfeição Tecnológica
Antigamente, a perfeição era um feito árduo, exigindo um rigor extremo, como exemplificado pelas "computadoras humanas" na NASA, que realizavam milhares de cálculos manuais para missões espaciais. Um único erro poderia ter consequências catastróficas. A sociedade e os sistemas educativos ensinavam que a perfeição era o caminho para o sucesso. No entanto, a tecnologia moderna, como folhas de cálculo, softwares de edição de vídeo, e modelos de linguagem grandes como ChatGPT, tornou a perfeição facilmente acessível. É possível gerar documentos profissionais, vídeos de alta qualidade e textos sem erros gramaticais em segundos. Esta facilidade desvalorizou o que antes era um selo de qualidade.
A tecnologia tornou a perfeição fácil, quase trivial, e ao fazê-lo, subverteu completamente os planos da sociedade para a perfeição.
Uma professora universitária de Milão revela que hoje em dia reprova imediatamente trabalhos com erros gramaticais, defendendo que não há desculpa para a imperfeição quando ferramentas como o ChatGPT podem corrigir textos instantaneamente. Contudo, outros educadores, como o professor de Matías, colega do narrador, valorizam precisamente os erros, vendo-os como prova de que o trabalho foi feito por um ser humano. Quando a perfeição era difícil, era valorizada; agora que é fácil, são as imperfeições que se tornam valiosas.
A Estética da Imperfeição em Conteúdo e Marcagem
A publicidade e o entretenimento estão a espelhar a mudança. O anúncio da Nike de Casey Neistat, com a sua qualidade de vídeo "ruim" (720p, granulado, edição básica), mas com 32 milhões de visualizações, contrasta drasticamente com os anúncios cinematográficos de milhões de dólares. A sua imperfeição intencional o tornou icónico. Programas de televisão anteriores, tinham uma estética polida e profissional, com iluminação plana e tudo em foco. No entanto, criadores de conteúdo como Ryan Tran têm mais visualizações do que muitos programas de TV profissionais, utilizando miniaturas imperfeitas, animações "más" e áudio deficiente. O seu sucesso reside na sua autenticidade e na demonstração da sua humanidade. Vídeos completamente gerados por inteligência artificial, apesar de tecnicamente perfeitos, são "totalmente banais" porque lhes falta a imperfeição humana.
Até grandes empresas estão a adotar esta estética. A página de Instagram do KFC Espanha, uma empresa bilionária, publica vídeos absurdos e tecnicamente “maus” que, no entanto, geram um enorme envolvimento. Esta é uma mudança deliberada de uma abordagem de publicidade perfeita que não funcionava por ser genérica.
Novas Tendências em Tecnologia e Design
A procura por câmeras digitais baratas dos anos 2000, que produzem fotos desfocadas e ruidosas, está em alta, superando até mesmo a capacidade dos smartphones modernos de tirar fotos perfeitas. O narrador menciona a Fuji X100V, uma câmera de $1.500 cujo principal diferencial é a capacidade de recriar a estética de filme antigo, adicionando granulação e outras imperfeições às fotos, tornando-a quase impossível de encontrar nova no mercado.
Mesmo o design de software está a abraçar a imperfeição. O Material You, a linguagem de design do Google lançada em 2021, baseia-se na personalização, onde as cores da interface são derivadas do papel de parede do utilizador, criando combinações de cores únicas e por vezes "estranhas". As senhas são representadas por formas diferentes em vez de círculos uniformes em alguns casos, e os widgets têm formatos e movimentos "estranhos". Até a Apple, conhecida pela sua perfeição, introduziu no iOS 18 a capacidade de colorir ícones de qualquer cor, permitindo combinações "horríveis", mas humanas e imperfeitas.
O narrador também alterou as miniaturas dos seus vídeos do YouTube, adicionando pixels, arranhões e impressões digitais, tornando-as mais reais e "imperfeitas", o que resultou num desempenho significativamente melhor.
Imperfeição na Comunicação e Narrativa
O sucesso duradouro de franquias como Star Wars pode ser explicado pela sua estética imperfeita, mas realista. Ao contrário de outros universos de ficção científica, como Star Trek, que apresentam mundos polidos e naves impecáveis, Star Wars mostra naves desgastadas, cidades decadentes e um universo que parece habitado e real. Esta abordagem ressoa mais profundamente com o público.
A comunicação formal também está a ser desafiada. A linguagem corporativa cheia de jargão artificial, comum em ambientes como a Amazon, está a tornar-se obsoleta. Modelos de linguagem como o ChatGPT são treinados em milhões de documentos corporativos e blogs formais, resultando em respostas genéricas e impessoais. No entanto, as pessoas estão cada vez mais a rejeitar esta comunicação polida. O narrador menciona que ele responde apenas a 2% dos 200 e-mails que recebe semanalmente, e esses 2% são e-mails curtos, informais, e até com erros gramaticais, mas que revelam a presença de um ser humano. Esta preferência por comunicação autêntica e imperfeita demonstra um desejo crescente de conexões genuínas.
Valorizar a Imperfeição para se Destacar
A sociedade ensinou-nos a buscar a perfeição em tudo, desde a nossa aparência até à forma como nos expressamos. No passado, ser perfeito era um desafio. No entanto, a tecnologia tornou a perfeição trivial e acessível a todos, diminuindo o seu valor como diferenciador. Agora que a tecnologia "comodificou" a perfeição, a imperfeição tornou-se a nova forma de se destacar. Como Bob Ross ensinava, um erro pode ser um "acidente feliz" que leva a algo novo e inesperado. Na música, não existe uma nota "errada"; é o que se toca a seguir que a torna "certa". Portanto, o melhor que podemos fazer é abraçar a nossa imperfeição, pois é isso que nos torna humanos e únicos.
Takeaways
- Desvalorização da Perfeição: A facilidade com que a tecnologia permite alcançar a perfeição (em textos, vídeos, designs) fez com que esta perdesse o seu valor como diferenciador. O que antes era sinal de excelência e esforço, agora é trivialmente alcançável.
- Ascensão da Imperfeição: A imperfeição, a autenticidade e a "humanidade" tornaram-se qualidades valorizadas, em contraste com a perfeição genérica e polida. Marcas e criadores de conteúdo estão a adotar uma estética "bruta" e "real" para se conectarem com o público.
- Autenticidade Humana vs. AI: A preferência por erros e imperfeições nos trabalhos, tanto na educação como nas comunicações, é uma forma de validar que o conteúdo foi criado por um ser humano, e não por uma inteligência artificial que produz resultados tecnicamente perfeitos, mas impessoais.
- Impacto na Comunicação e Cultura: A linguagem corporativa formal está a ser substituída por uma comunicação mais direta e informal. Filmes e séries com estéticas mais "reais" e desgastadas ressoam mais com o público, mostrando uma preferência por narrativas que refletem a imperfeição da vida real.
- Vantagem Competitiva: Num mundo onde a perfeição é a norma e facilmente replicável, a imperfeição autêntica é o novo diferencial. É a chave para se destacar, criar conexões genuínas e mostrar a originalidade.
References
- Nike: Marketing e Campanhas Publicitárias
- Computadores Humanos na NASA e a Corrida Espacial
- Impacto do ChatGPT na Educação e Escrita Acadêmica
- A Estética da Imperfeição no Marketing Digital
- Google Material You Design Language
- Novidades do iOS 18: Personalização e Funcionalidades
- O Estilo Visual e Estético de Star Wars
- Evolução da Comunicação Corporativa e o Uso da IA
- Filosofia de Bob Ross: "Happy Accidents"
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