Suíça: 14 previsões para os próximos 5 anos

A análise das perspectivas futuras para a Suíça aponta para a manutenção de um cenário de estabilidade, característica marcante do país alpino ao longo de sua história recente. Essa projeção baseia-se na solidez de sua estrutura política e econômica, elementos que se espera que perdurem até o ano de 2030. O autor baseia essas visões em uma análise aprofundada, embora reconheça a inerente imprevisibilidade do futuro a longo prazo. O foco inicial recai sobre os mecanismos que garantem essa resiliência, sendo o mais proeminente a forma única de participação cívica do país, que assegura a continuidade do progresso sob a vontade popular.

A Suíça se destaca globalmente por possuir o maior volume de referendos, consolidando a democracia direta como seu principal diferencial político. Este sistema permite que os cidadãos influenciem desde decisões sobre manutenção de infraestrutura rodoviária até a aquisição de equipamentos militares. Caso um segmento da população deseje mudanças, a coleta de 100.000 assinaturas em um período de 18 meses garante que a pauta seja revisada. Esta tradição de soberania popular remonta ao conceito inicial da federação suíça e à primeira constituição de 1848, sendo altamente improvável que tal estrutura mude em apenas cinco anos.

A Suíça é o país número um no mundo, que tem o maior número de referendos.

A manutenção da estabilidade econômica suíça é fortemente corroborada por uma política fiscal historicamente orientada para a austeridade, que já se estende por muitos anos. Existe uma percepção comum entre observadores menos informados de que o país opera como um estado de bem-estar social extenso, similar aos países nórdicos, sustentado por altos impostos. Contudo, a realidade demonstra uma abordagem mais enxuta, onde propostas de corte de gastos surgem frequentemente, especialmente após a quitação de despesas específicas, como obras públicas, resultando na queda imediata dos impostos temporariamente elevados.

A disciplina fiscal é evidente ao analisar a dívida. O percentual da dívida bruta em relação ao PIB, que atingiu um pico de quase 58% em 2004, tem caído consistentemente. Ao considerar a dívida líquida, levando em conta todos os ativos líquidos disponíveis para quitação, o valor cai para apenas 17%. Este cenário contrasta drasticamente com o dos Estados Unidos, cuja dívida já ultrapassa 100% do PIB e apresenta crescimento exponencial. Portanto, a projeção é que a Suíça permaneça como um país com economia forte nos próximos cinco anos.

No âmbito monetário, o franco suíço, moeda nacional, demonstra uma tendência inegável de valorização em relação a praticamente todas as moedas globais, não apenas ano após ano, mas de década em década. Desde o início do ano corrente, por exemplo, o franco já se valorizou em 14% frente ao dólar. Essa força cambial, embora indicativa de saúde econômica, gera desafios significativos, principalmente para o setor de exportação, pois encarece os produtos suíços para compradores internacionais que precisam pagar na moeda local.

Diante da valorização que torna certas exportações inviáveis, o Banco Nacional Suíço (SNB) realiza intervenções estratégicas. A diferença proporcional entre a venda de 1 bilhão de francos para estabilizar o câmbio e a compra de 123 bilhões para controlar a inflação demonstra a complexidade da gestão monetária. Não seria surpreendente que, em cinco anos, um trabalhador suíço recebesse o equivalente a 1,50 dólar por franco ou 1,20 euro por franco.

Uma das previsões mais otimistas é que a Suíça deixará sua posição atual de terceiro lugar no ranking de PIB per capita mundial para assumir a segunda colocação, com potencial até mesmo para o primeiro lugar em um futuro mais distante. Este avanço esperado não se deve apenas à resiliência econômica geral, mas é impulsionado por fatores específicos relacionados à atração de capital humano e financeiro, especialmente na era da Inteligência Artificial e dos serviços.

A Suíça é um polo de atração para indivíduos de alta renda, com estimativas apontando para uma imigração líquida de 13.000 milionários até 2025. Isso significa que o número de milionários que chegam supera aqueles que partem. Quando se considera o tamanho da população suíça, este influxo é desproporcionalmente grande em comparação com nações que recebem volumes maiores, mas que possuem economias dez ou cem vezes superiores. A entrada de cada milionário, cujo patrimônio é significativamente superior ao milhão, eleva naturalmente a média do PIB per capita do país.

Se cada milionário que está vendo tem 1 milhão, a média vai subir.

Paralelamente à atração de riqueza, a Suíça tem implementado e considerado mecanismos para limitar a entrada de imigrantes em geral, incluindo aqueles que buscam asilo, e não apenas refugiados ou pessoas de fora da Europa. Um exemplo concreto é a iniciativa do partido UDC, que recentemente coletou mais de 111.000 assinaturas para propor o fim do que denominam como a lei do abuso do asilo, citando casos de indivíduos que recebem benefícios enquanto retornam a seus países de origem.

A não participação da Suíça na União Europeia confere-lhe uma liberdade muito maior para definir suas próprias políticas migratórias, diferentemente de outros países europeus que sofrem com a pressão da crise migratória continental. A maioria dos imigrantes que chegam ao país são europeus, sendo os italianos a segunda maior população após os suíços, seguidos por alemães e portugueses. A situação geral é considerada menos complicada do que em nações vizinhas como Itália e Espanha, mas o movimento para restringir ainda mais a entrada é claro.

Em negociações recentes com a União Europeia, a Suíça incluiu mecanismos de salvaguarda que podem ser ativados em casos de superlotação ou preocupações com a segurança nacional. Isso permite limitar a entrada de cidadãos europeus, como italianos e alemães. Embora este mecanismo não deva ser ativado até 2030, ele representa uma salvaguarda contra um futuro onde cidadãos de países vizinhos, após adquirirem passaportes europeus, poderiam entrar livremente no território suíço.

Olhando para o mercado de trabalho, projeta-se que, até 2030, os profissionais da área da saúde serão aqueles com a migração mais fácil e maior nível de requisição para ingressar no país. Este setor já apresenta a maior demanda e crescimento contínuo. Em uma nota menos positiva, mas previsível, o custo dos seguros de saúde continuará a subir no curto prazo, pressionando o orçamento dos residentes.

Apesar da tendência de alta, existe uma forte crença de que políticas públicas eficientes serão implementadas pouco antes de 2030 para conter o avanço dos preços dos seguros. Medidas já em planejamento incluem a possibilidade de compra de medicamentos genéricos e a facilitação da importação de insumos, além de uma administração mais enxuta através da digitalização de processos. É possível que, logo após 2030, ocorra uma queda nos custos.

O aluguel é outro item com tendência de alta. A diminuição do aumento dos preços dependeria da flexibilização na construção de novas unidades habitacionais ou da limitação da imigração. Atualmente, fora dos centros urbanos, é raro encontrar prédios com mais de quatro ou cinco andares, indicando margem significativa para novas construções verticais. Além disso, o fluxo de imigrantes milionários deve valorizar desproporcionalmente casas localizadas em áreas mais retiradas, como as beiras de lagos (Lugano, Vaud) e regiões montanhosas, pois estes indivíduos buscam maior tranquilidade e qualidade de vida.

No cotidiano residencial, espera-se que haja uma substituição dos aquecedores de óleo e gás por sistemas de ar condicionado, especialmente devido aos verões cada vez mais quentes. Essa transição depende da flexibilização de regulamentações que atualmente dificultam a instalação desses aparelhos. Em paralelo, o setor de transporte público deve experimentar melhorias significativas, com maior disponibilidade e uma consequente diminuição do tráfego de veículos particulares.

A narrativa da empresa de transportes SBB sugere que, com mais pessoas utilizando os trens, o custo operacional fixo se dilui, permitindo a redução dos valores cobrados por viagens. O aumento da utilização do transporte público, em detrimento do uso individual de carros, resultará em menos congestionamentos nas vias.

Uma das previsões mais significativas envolve o setor energético: espera-se que, até 2030, inicie-se o planejamento ou a movimentação para a construção de uma nova usina nuclear. Desde 2018, a proibição da construção de novas usinas tem sido alvo de propostas de alteração. Em agosto do ano corrente (2024), o governo já produziu um rascunho de lei para extinguir esse banimento, indicando uma forte mudança na política energética nacional.

Enquanto que a Europa tem que arrumar a casa, a Suíça já está correndo na frente.

Por fim, uma mudança palpável no dia a dia será a introdução de novas cédulas de dinheiro, cujos designs foram propostos recentemente. Um aspecto notável deste processo é a inclusão de residentes, e não apenas cidadãos suíços, no direito de votar para escolher o novo design que será adotado. Este ato reflete uma abertura para a participação cívica de todos aqueles que estabeleceram residência no país, independentemente de sua cidadania.

A possibilidade de que indivíduos que não possuem o passaporte suíço, mas que residem legalmente no país, possam opinar sobre a aparência do dinheiro nacional, sinaliza uma tendência de maior integração cívica para a comunidade de expatriados estabelecidos. Esta é a última das previsões apresentadas sobre o futuro da nação alpina até o final da década.