Programadores da Geração Z estão acabados?

A resposta curta à pergunta se os programadores da Geração Z estão 'acabados' é um retumbante 'não'. Embora o cenário atual possa parecer desafiador à primeira vista, com demissões impulsionadas por IA e uma economia incerta, a trajetória da Geração Z tem sido marcada por obstáculos desde o nascimento durante a bolha pontocom, a perda de fundos universitários durante a Crise Financeira Global e a graduação em meio a uma pandemia. Contudo, essa resiliência moldou uma geração capaz de navegar em tempos difíceis, e o mercado de programação não é exceção.

A superfície do mercado de trabalho para programadores, especialmente os de nível inicial, apresenta desafios notáveis. A inteligência artificial emergiu como um fator significativo que transformou a dinâmica de contratação, diminuindo a necessidade de certas tarefas que antes eram a porta de entrada para programadores juniores. A capacidade da IA de agilizar a escrita de código e automatizar tarefas repetitivas mudou o perfil das vagas disponíveis, exigindo uma reavaliação das competências valorizadas.

Historicamente, a contratação de estagiários e desenvolvedores juniores era quase indispensável para realizar tarefas básicas como escrever código boilerplate, configurar projetos ou corrigir bugs persistentes. No entanto, a IA revolucionou esse processo, tornando a escrita de código muito mais rápida e eficiente. Essa mudança resultou em uma redução drástica nas oportunidades de nível inicial, à medida que as empresas buscam otimizar suas equipes com ferramentas automatizadas.

Paralelamente à IA, outra força poderosa no mercado é o 'offshoring', a terceirização de equipes de desenvolvimento inteiras para países com custos de mão de obra mais baixos. Com a ascensão do trabalho remoto, muitas empresas optaram por esta estratégia. O objetivo principal não é o desenvolvimento de novos talentos, mas sim a busca pela maior experiência pelo menor custo. Este movimento tem dificultado a entrada de novos desenvolvedores, mesmo em regiões em desenvolvimento, pois a prioridade é a eficiência e a economia.

A popularização da ideia de que 'aprender a programar' era a solução para o desemprego nos anos 2010 levou a uma explosão de bootcamps e cursos. Contudo, a programação, como qualquer outra habilidade, exige competência, motivação e um talento natural para a resolução de problemas, não sendo uma solução rápida para problemas econômicos. A proliferação desses programas resultou na saturação do mercado de desenvolvedores juniores, tornando a competição por vagas extremamente acirrada e desafiadora para os recém-formados.

Com o aumento do trabalho remoto, muitas empresas decidiram terceirizar equipes de desenvolvimento inteiras. Isto não tornou a obtenção de um emprego de desenvolvedor no mundo em desenvolvimento mais fácil. As empresas que procuram terceirizar não o fazem para nutrir futuros talentos, mas para obter a maior experiência pelo menor custo.

A dinâmica do mercado de desenvolvimento mudou significativamente, impactando a contratação de profissionais juniores e as expectativas salariais.

Apesar dos desafios, vive-se em uma era onde fundadores de startups são cada vez mais jovens e até mesmo crianças produzem códigos de alta qualidade. A solução para superar este cenário é a iniciativa. A tecnologia é um campo dinâmico onde é possível demonstrar competência independentemente de ter um emprego formal. Existem diversas maneiras de fazer isso, focando na construção e na demonstração de valor.

Construir algo é um conselho recorrente, mas extremamente verdadeiro. Seja um projeto pessoal, uma startup, uma comunidade ou até mesmo conteúdo, a chave é criar algo que gere valor. Deve ser algo que realmente importe, seja útil e possa ser exibido. A programação, afinal, é uma habilidade social. Grandes bases de código, projetos de código aberto e comunidades não são construídos nem mantidos por uma única pessoa.

Uma vez envolvido na construção de algo, encontrará outras pessoas ou será encontrado por elas, expandindo sua rede profissional. A construção de projetos também amplia seu conjunto de habilidades.

Ter um conjunto amplo de habilidades funciona de duas maneiras. É possível adotar a mentalidade de um desenvolvedor em forma de T, possuindo um vasto leque de habilidades em áreas como DevOps, front-end e bancos de dados, mas com foco aprofundado em uma área específica. Contudo, essa ideia pode ser extrapolada ainda mais, combinando a programação com outras áreas do conhecimento.

O conceito de desenvolvedor em forma de T sugere que um profissional tem um conhecimento amplo em diversas tecnologias e domínios (a barra horizontal do 'T'), mas é especialista em uma área específica (a barra vertical). Por exemplo, pode-se ter conhecimentos básicos de front-end, DevOps e bancos de dados, mas ser um expert em desenvolvimento back-end. Essa abordagem permite uma visão holística dos projetos e a capacidade de colaborar em múltiplas frentes, ao mesmo tempo em que se destaca em uma competência central.

É possível combinar a programação com outras competências para criar um perfil único e altamente valorizado no mercado de trabalho. Exemplos incluem:

Diante do ritmo acelerado da economia atual, a generalização tornou-se a nova especialização, especialmente para profissionais em nível júnior. A capacidade de aprender rapidamente novas tecnologias e adaptar-se a diferentes contextos é um diferencial crucial. Existem muitos recursos de aprendizado de alta qualidade disponíveis para adquirir novas habilidades rapidamente, permitindo que os desenvolvedores construam um perfil versátil e resiliente.

Uma estratégia adicional de iniciativa é a abordagem direta (cold approach). Embora a Geração Z pareça fascinada por vídeos sobre abordagens diretas, raramente os aplica profissionalmente. O objetivo não é enviar spam para pessoas no LinkedIn, mas sim uma pesquisa estratégica e uma comunicação bem elaborada. Deve-se procurar por empresas que recentemente receberam investimentos, pesquisar seus produtos e pensar em maneiras de agregar valor a elas.

A chave é enviar mensagens bem pensadas e personalizadas, demonstrando um entendimento genuíno da empresa e propostas de valor específicas. Uma dica profissional é que o e-mail tende a ser mais eficaz do que o LinkedIn para este tipo de abordagem. Enviar 10 mensagens por dia durante 10 dias pode gerar 100 oportunidades potenciais, mostrando que a consistência e a proatividade são fundamentais no processo de busca por emprego.

Fundamentalmente, o setor de tecnologia, assim como qualquer outro, terá seus altos e baixos. Haverá bons momentos, tempos desafiadores e períodos em que até mesmo linguagens mais antigas, como COBOL, estarão em produção. A chave para o sucesso e a longevidade na carreira é a disposição de se dedicar ao trabalho árduo e de persistir, navegando pelas diversas fases do mercado. Aqueles que demonstram proatividade e resiliência conseguem superar as adversidades e se posicionar para o crescimento a longo prazo.

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