
Agentes Autônomos com ADK, RAG e Design Patterns – Aula 03
O artigo aborda a complexidade e a profundidade dos agentes autônomos de IA, desmistificando a percepção comum de que a criação de um agente é um processo simples. Ele enfatiza que, embora existam ferramentas que simplificam a etapa inicial de incorporação de dados em bancos de dados vetoriais, a verdadeira inteligência e eficácia de um agente reside na complexidade das regras de negócio, metadados e estratégias de avaliação. O conteúdo detalha o conceito de Retrieval-Augmented Generation (RAG), explicando como ele permite que a IA consulte dados externos de forma eficiente, especialmente em cenários com volumes massivos de informações. Além disso, o artigo aprofunda-se na distinção entre um chatbot e um agente de IA, ressaltando que um agente possui características como autonomia, adaptabilidade, capacidade de improviso, simulação de cenários e gerenciamento de memória de curto e longo prazo. É apresentada a arquitetura de aplicações multiagentes, onde múltiplos agentes colaboram para resolver problemas complexos, delegando responsabilidades e compartilhando estados e artefatos. O Google ADK (Agent Development Kit) é destacado como um framework robusto para o desenvolvimento desses agentes, abrangendo ferramentas, sessões e gerenciamento de memória, além de discutir a importância dos padrões de design e avaliação contínua para garantir a qualidade e o desempenho dos agentes de IA. O artigo conclui reforçando que o desenvolvimento de softwares com IA exige um perfil de desenvolvedor mais completo, com conhecimentos aprofundados em arquitetura de software, automação e metodologias de DevOps e SRE.
Retrieval-Augmented Generation (RAG) e Bancos de Dados Vetoriais
O conceito de Retrieval-Augmented Generation (RAG) é fundamental para que as IAs possam consultar o mundo externo e obter dados relevantes que não foram incluídos no seu treinamento original. Diferente do fine-tuning, que envolve uma ingestão massiva de dados para retreinar o modelo, o RAG foca em injetar dados contextualmente relevantes diretamente no prompt. Isso permite que a IA acesse conhecimentos específicos da empresa ou de qualquer base de dados externa no momento da consulta, sem a necessidade de um retreinamento dispendioso.
O processo de RAG inicia com a coleta de diversos documentos da empresa, como PDFs, páginas web, Google Docs, Notion, e dados de bancos de dados. Essas informações são então "chunked", ou seja, divididas em partes menores, tipicamente com um número específico de tokens (por exemplo, 500 tokens por chunk). Esse processo de fragmentação otimiza o custo e a latência das consultas, pois a IA não precisa processar todo o documento. Para evitar que os chunks percam contexto devido ao corte abrupto, é aplicada uma técnica chamada "overlapping", onde cada chunk inclui uma pequena porção do conteúdo do chunk anterior. Isso garante que, ao recuperar uma parte específica, o contexto adjacente seja mantido.
Posteriormente, cada chunk é transformado em um vetor (embedding) usando um modelo de IA. Esses vetores são armazenados em um banco de dados vetorial. Quando um usuário faz uma pergunta, essa pergunta também é convertida em um vetor. O banco de dados vetorial então realiza uma busca comparativa para encontrar os registros (chunks) cujos vetores são mais semanticamente próximos ao vetor da pergunta. Os registros mais relevantes são recuperados e inseridos no prompt da IA, que então gera uma resposta precisa com base nesse contexto fornecido. Os metadados, como o tipo de documento (overview, disciplina, professor) e identificadores (curso ID), são cruciais para refinar essas buscas e garantir que a IA recupere as informações mais apropriadas para a intenção do usuário.
O gerenciamento dos metadados e a definição das intenções do usuário são aspectos críticos do RAG. A identificação da "intent" da pergunta (ex: "quais MBAs você tem?", "quem são os professores deste curso?") permite que o sistema filtre os documentos de forma inteligente, buscando apenas aqueles que são relevantes para a consulta específica. Existem abordagens heurísticas (baseadas em palavras-chave) e abordagens mais caras mas precisas (usando a IA para inferir a intenção). Além disso, deve-se considerar estratégias de fallback, onde se um documento específico não for encontrado, o sistema pode buscar uma alternativa (ex: se não há detalhes de disciplina, busca no overview). A atualização contínua da base de dados vetorial é garantida por meio de hashing, que verifica se o conteúdo foi alterado e só atualiza os documentos modificados, otimizando o processo de ingestão.
Apesar da aparente simplicidade do conceito, a implementação de um RAG eficiente é complexa, envolvendo regras de negócio, gerenciamento de tokens, e a necessidade de balancear custo com latência. Bancos de dados vetoriais como o Pinecone e extensões como o PGVector para PostgreSQL são ferramentas essenciais para armazenar e consultar esses vetores escalavelmente.
O que são Agentes de IA?
Agentes de IA representam uma nova geração de software, onde o modelo de inteligência artificial é o cerne das decisões. Ao contrário do software determinístico tradicional, onde o resultado é sempre o mesmo para uma dada entrada, os agentes de IA operam com base em probabilidades. Isso significa que suas respostas e ações podem variar, exigindo uma abordagem diferente para testes e validação.
As características essenciais de um agente de IA incluem:
- Papel Específico: Cada agente é projetado para uma função bem definida, otimizando seu desempenho em uma tarefa específica.
- Conhecimento do Ambiente: O agente compreende seu contexto operacional, suas ferramentas disponíveis e como interagir com o mundo ao seu redor.
- Improvisação e Adaptabilidade: Agentes podem tomar decisões não previstas, buscando soluções através das ferramentas disponíveis, como consultar a internet se não possuírem a informação diretamente.
- Lida com Dados Não Estruturados: Eles conseguem processar e transformar informações em diversos formatos, mesmo que estejam desorganizadas.
- Simulação de Cenários: Agentes podem analisar múltiplas possibilidades e escolher a melhor ação com base em critérios definidos.
- Memória: Possuem memória de curto prazo (contexto da sessão atual) e de longo prazo (informações persistentes para resolver problemas futuros), sendo o gerenciamento da memória um dos maiores desafios técnicos.
É crucial não confundir um agente de IA com tecnologias relacionadas, mas distintas:
- Um LLM com regras de negócio não é necessariamente um agente de IA.
- RAG, embora possa ser usado por agentes, é uma técnica de recuperação de dados, não um agente em si.
- MCP é um protocolo de comunicação, não um agente.
- Um chatbot pode ser um agente, mas nem todo chatbot é um agente de IA, pois muitos não possuem as características de autonomia e improvisação.
Aplicações Multiagentes
A complexidade de resolver problemas de ponta a ponta muitas vezes exige a colaboração de múltiplos agentes, cada um com uma tarefa específica. Nesses cenários, as aplicações multiagentes se destacam por permitir a delegação de responsabilidades entre si. Um agente pode usar outro agente como uma "ferramenta" para executar uma parte específica da tarefa, como um agente de vendas que consulta um agente de produtos para obter detalhes de um item.
Essas aplicações podem ser orquestradas de forma mais determinística ou probabilística, dependendo da necessidade. Frameworks como LangChain (que foca em pipelines de ações) e LangGraph (para fluxos mais determinísticos) são exemplos de ferramentas que facilitam essa orquestração. Além disso, agentes em um sistema multiagente podem se comunicar em linguagem natural, compartilhando estados e artefatos de trabalho para manter o contexto e a colaboração contínua. Um exemplo prático disso é um sistema de bugfinder que monitora logs, analisa erros, cria issues no GitHub e notifica equipes, com cada etapa sendo responsabilidade de um agente especializado.
Dentro do contexto de aplicações multiagentes, o Google ADK (Agent Development Kit) é um framework que se destaca por sua capacidade de criar agentes robustos e integrar-se a outros sistemas. Ele oferece componentes para agentes (base agent, LLM agent), ferramentas (function calls, agent tools), sessões (para isolar conversas e manter histórico), e gerenciamento de memória (curto e longo prazo). O ADK também fornece recursos de tracing detalhados, permitindo visualizar o fluxo de execução e a interação entre os agentes.
Agentes vs. Subagentes
A arquitetura de agentes no Google ADK permite uma organização hierárquica, onde um agente principal (pai) pode ter múltiplos subagentes (filhos). Essa estrutura define a autonomia, escopo e compartilhamento de estado:
- Autonomia: O agente principal tem execução independente e decide quando e como chamar os subagentes. Subagentes, por outro lado, são executados apenas quando solicitados pelo pai, operando como funções especializadas.
- Escopo: O agente principal pode transferir o controle para qualquer agente em sua hierarquia (filhos, irmãos ou para o "avô"). Subagentes são limitados ao escopo definido pelo pai e só podem retornar resultados a ele.
- Compartilhamento de Estado: O agente principal gerencia seu próprio estado e decide quais informações compartilhar com os subagentes. Os subagentes compartilham seu estado com o pai, mas não possuem estado privado, recebendo seu contexto do pai.
Essa organização hierárquica permite o desenvolvimento de sistemas mais complexos e modulares, onde cada agente é responsável por uma parte específica do problema, otimizando a manutenibilidade e a escalabilidade. Por exemplo, um agente de serviço ao cliente pode ter subagentes para procurar pedidos, processar reembolsos e fornecer suporte técnico, delegando tarefas específicas e garantindo que cada componente opere dentro de seu escopo e contexto adequado.
Patterns de Design para Agentes de IA
Assim como no desenvolvimento de software tradicional, a criação de agentes de IA também se beneficia de padrões de design específicos. Esses padrões ajudam a estruturar a lógica, gerenciar interações e garantir a robustez e a segurança dos sistemas de IA:
- Coordinator Dispatcher Pattern: Um agente coordenador distribui tarefas para outros agentes especializados.
- Sequential Pipeline Pattern: As tarefas são executadas em uma sequência predefinida, onde a saída de um agente se torna a entrada do próximo.
- Parallel Fan-Out/Gather Pattern: Múltiplas tarefas são executadas em paralelo e seus resultados são consolidados por um agente central.
- Hierarchical Task Decomposition: Uma tarefa complexa é dividida em subtarefas menores e delegadas a subagentes.
- Review Critique Pattern: Um agente revisa e fornece feedback para melhorar o trabalho de outro agente.
- Interactive Refinement Pattern: Agentes interagem para refinar continuamente uma solução com base em feedback.
- Human in the Loop Pattern: Um humano é incluído no processo decisório do agente para supervisionar ou aprovar ações críticas.
Além dos padrões de design para agentes, a segurança é uma preocupação primordial. Conceitos como prompt injection e jailbreaking exigem a implementação de guardrails para prevenir comportamentos indesejados. Guardrails são sistemas de regras e barreiras que delimitam as ações e respostas de um agente, garantindo que ele não gere informações incorretas ou tome decisões prejudiciais. Há também padrões de segurança como o "Action Selector Pattern" e o "Dual LLM Pattern" que envolvem o uso de múltiplos modelos para filtrar e validar informações, e callbacks para interceptar e modificar o fluxo de execução dos agentes.
Avaliação e Testes de Agentes de IA
A avaliação de agentes de IA é um desafio significativo devido à sua natureza não determinística. É essencial ter métodos para garantir o comportamento esperado e a qualidade das respostas, mesmo que as ações do agente possam variar. Isso é feito através de "evaluation sets", que são coleções de cenários de teste para verificar a consistência e a eficácia do agente.
As métricas de avaliação podem incluir:
- Exact Match: Verifica se o resultado do agente corresponde exatamente ao esperado.
- In Order Match: Avalia se as ações são executadas em uma ordem específica.
- Any Order Match: Garante que certas ações são executadas, independentemente da ordem.
- Precision e Recall: Medem a relevância e a completude das ações realizadas pelo agente.
- Final Response Quality: Análise da qualidade, relevância e correção da resposta final do agente, frequentemente usando métricas como o ROUGE score, comum em tradução automática.
Esses testes automatizados permitem medir a similaridade entre o que o agente produziu e o resultado esperado, ajudando a identificar quando o prompt, a estrutura do agente ou as ferramentas precisam ser ajustadas. Embora a IA ofereça um enorme potencial para aumentar a produtividade e resolver problemas complexos, ela exige um profundo conhecimento de arquitetura de software, padrões de design e práticas de DevOps e SRE. O desenvolvimento de agentes eficientes não é trivial e envolve a orquestração de várias camadas de tecnologia e lógica.
Takeaways
- RAG é Crucial para Dados Externos: O RAG permite que as LLMs consultem bases de dados externas e massivas, injetando informações relevantes diretamente no prompt. Ele envolve a fragmentação de documentos (chunking) com overlapping para manter o contexto, transformação em vetores (embeddings) e armazenamento em bancos de dados vetoriais (Pinecone, PGVector).
- Metadados e Intenção do Usuário são Essenciais para a Qualidade do RAG: A eficácia do RAG depende da qualidade dos metadados anexados aos documentos e da capacidade da IA de inferir a intenção da pergunta do usuário. Isso permite filtros precisos e recuperação de dados relevantes, evitando informações desnecessárias ou incorretas.
- Agentes de IA são Mais que Chatbots: Agentes de IA são softwares complexos com um LLM como núcleo de decisão, caracterizados por autonomia, adaptabilidade, capacidade de improviso, simulação de cenários, e gerenciamento de memórias de curto e longo prazo. Distinguem-se de simples chatbots, RAG ou MCP.
- Aplicações Multiagentes Permitem Resolução de Problemas Complexos: Sistemas multiagentes envolvem a colaboração de múltiplos agentes especializados, que delegam responsabilidades, usam outros agentes como ferramentas e se comunicam para resolver tarefas complexas. O Google ADK é um framework robusto para essa construção, oferecendo hierarquias (agentes vs. subagentes) e gerenciamento de estado e artefatos.
- Design Patterns e Avaliação são Cruciais para Agentes de IA: A implementação de design patterns específicos para agentes (coordenador-dispatcher, pipeline sequencial, etc.) é vital para estruturar a lógica. Além disso, a avaliação contínua com testes automatizados (evaluation sets) e métricas específicas (Exact Match, ROUGE score) é indispensável para garantir a qualidade, segurança (guardrails) e desempenho de agentes não determinísticos.
Referências
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